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Estigmatização Social

por Agar, em 28.05.19

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ESTIGMA E IDENTIDADE SOCIAL

No decorrer da historia humana diversas culturas estipulavam status morais e sociais, os quais o indivíduo deveria seguir se não este seria marginalizado socialmente. Na Grecia antiga foi criado o termo estigma, este conceito estava relacionado a algum sinal corporal representava um status, seja ele bom ou ruim. Estes quando representava uma característica ruim eram evitados, principalmente em lugares públicos. Nesta mesma vertente os cristãos criaram um estigma relacionado a dádivas celestiais.

Segundo Goffman, sempre a sociedade tentou estipular uma identidade social comum entre as pessoas exigindo que respeitem esses atributos por ela estabelecidos, podendo o indivíduo sofre sanções caso não sejam compridas. Logo as primeiras pré-noções de um sujeito que nos é apresentado vai depender da sua identidade social que ele apresenta. Fazemos afirmações daquilo que o indivíduo que esta a nossa frente deveria ser assim este caráter estabelecido a esse sujeito, pode ser uma categorização efetiva, uma identidade social virtual. Já as características que ele apresenta possuir são chamadas de identidade social real. Quando estipulamos um atributo a um estranho, o classificando como diferente dos outros, desconsiderando que este é uma pessoa comum, reduzindo-o a uma ser estragado e inferior, ou ate superior a nós, estamos aplicando nele um estigma. E o que acontece, por exemplo, com o usuário de droga, a sociedade rotula o usuário com um indivíduo inferior, o estigmatiza levando-o assim a mais baixa casta social moderna, sendo este a pior vitima quando se torna um dependente da substancia. Neste ponto, Warley Belo pondera:

"Toda via, o maconheiro não é uma entidade demoníaca, não vende sua alma ao diabo, não é o inimigo público número um ou um malandro a mercê do direito penal do inimigo, mas, apenas um usuário afetado por um vício maléfico a si próprio que precisa ser debelado com informações e ajuda profissional (Belo, 2008, pag. 46)."

O IGUAL E O INFORMADO

Segundo Goffman temos a identidade virtual e a identidade real, tanto conhecida com manifestada, afeta o indivíduo do convívio social de si próprio, tornando-o uma pessoa desacreditada. Isso abaixa a auto-estima do ser estigmatizado, porém este quando se depara com outro igual, que compartilha o mesmo estigma, poderá encontrar nesse apoio moral, pois sabendo do peso de carregar tal estigma pode propiciar a vida do indivíduo estigmatizado na sociedade, fornecendo refugio e amparo. O artífice, continua neste sentido a desmembrar a vida em sociedade do estigmatizado, no engajamento destes em grupos de pessoas que compartilham do seu estigma, como os Alcoólatras Anônimos, grupo de ex-viciados, idosos, movimento negro, de ex-presidiários, comunidades étnicas ou religiosas; sendo que quando um membro de um grupo desses entra em contato com outro, os dois podem dispor-se a modificar o seu tratamento mútuo, devido à crença de que pertencem ao mesmo grupo.

Goffman mostra que o principal intuito desses grupos é mostrar aos outros tanto normais e estigmatizados que um indivíduo desse tipo pode ser uma boa pessoa. Neste quesito de informar aos outros sobre a situação do estigmatizado um representante grupo é essencial. Este pode ser uma pessoa que se destaca entre os estigmatizados e os normais, pode ser tanto um profissional ou um comum, que alcançou destaque causando repercussão na comunidade local devido ao seu estigma.

O autor considera que a dois conjuntos de indivíduos onde o estigmatizado pode encontrar apoio: os iguais; que são aqueles que compartilham do mesmo estigma, e os informados; que são normais que sabendo da condição do estigmatizado considera-o como uma pessoa comum, e o indivíduo que recebe o estigma não têm vergonha de mostrar sua situação.

Os informados podem ser divididos em dois grupos: o primeiro diz respeito às pessoas que tem uma informação sobre o estigma com seu trabalho. Um exemplo e o dos policiais lidam constantemente com criminosos, tendo que os policiais são as únicas pessoas, além dos outros criminosos, que o aceita pelo que ele é. Outro tipo de pessoa informada é o indivíduo que se relacionam com um estigmatizado através da estrutura social. A mulher de um paciente metal, a filha de um ex-presidiário, os pais do aleijado, o amigo não usuário do maconheiro; ocorre que estes adquirem um pouco desse estigma, mesmo não o possuindo, contudo por se relacionar com alguém que tem é tratado com tal.

A CARREIRA MORAL

Goffman trabalha na vertente de uma carreira moral do indivíduo estigmatizado, este no processo de socialização passa por duas fases iniciais; a primeira é quando ele aprende e incorpora o ponto de vista dos normais em relação de quem possui um estigma, e a outra se da quando ele aprende que tem um estigma e sofre as conseqüências de possuí-lo. Partindo dessa principio forma-se modelos que servem de base para um desenvolvimento posterior, desses modelos Goffman menciona quatro.

O primeiro modelo é daqueles que possuem um estigma inato, que desde pequeno aprende a visão dos normais em relação ao seu estigma particular, e padece do peso de telo, um órfão por exemplo. O segundo vem da família que tende a proteger um ente seu com um estigma das informações que possam diminuí-lo. Porém chegara um momento onde este circulo protetor não suprirá o contato dessa pessoa com o mundo, como ir a escola, onde ele passara por suas primeiras experiências morais. É de se ressaltar que quanto mais visível for o seu estigma, maior será a probabilidade de ser enviado para uma escola de crianças especiais, para junto de seus iguais. O terceiro modelo nos apresentado pelo artífice é os que adquirem um estigma numa fase mais avançada da vida ou aprende muito tarde que sempre foi estigmatizado.

É exemplificado com quarto modelo aqueles que são socializados em uma comunidade diferente, e quando se depara com uma outra deve aprender uma segunda maneira de ser, aquela que as pessoas à sua volta acham válida e real.

Quando um indivíduo aprende que é portador de um estigma é provável que mude sua relação perante outros estigmatizados, pois em um único contato com outros iguais, é suficiente para ele perceber que existem outros iguais a ele, e no convívio com esse que compartilham do mesmo estigma, ele aprenderá mais sobre seu estigma, tanto é que uma pessoa recentemente estigmatizada aprende com os outros iguais a se relacionar com os normais, ao ponto desse novato similar os membros mais antigos do grupo com seres humanos comuns.

CONTROLE DE INFORMAÇÃO E IDENTIDADE PESSOAL

O DESACREDITADO E O DESACREDITÁEL

Uma possibilidade fundamental na vida da pessoa estigmatizada é a colaboração que presta aos normais no sentido de atuar como se a sua qualidade diferencial manifesta não tivesse importância nem merecesse atenção especial.

A manipulação da manifestação da informação oculta que desacredita o eu, ou seja, o "encobrimento", o ex-paciente mental esconde informação sobre sua identidade social verdadeira recebendo e aceitando um tratamento baseado em falsas suposições a seu respeito.

A INFORMAÇÃO SOCIAL

É uma informação sobre um indivíduo sobre suas características mais ou menos permanentes, em oposição a estados de espírito, sentimento e intenções que ele poderia ter em certo momento. É transmitida pela própria pessoa a que de refere, através da expressão corporal da presença imediata daqueles que a recebem. Chamados de social à informação que possuem todas essas propriedades.

A informação social transmitida por um símbolo pode estabelecer uma pretensão especial a prestígio, honra ou posição de classe desejada. Tal signo é popularmente chamado de "símbolo de status". Signos que são especialmente efetivos para despertar a atenção sobre uma degradante discrepância de identidade que quebra o que poderia de outra forma ser um retrato global coerente, com uma redução conseqüente em nossa valorização do indivíduo.

Alguns signos que trazem informação social, cuja presença, inicialmente, se deve a outras razões, têm apenas uma função informativa superficial. Há símbolos de estigmas que nos dão exemplo desse ponto: as marcas no pulso que revelam que indivíduo tentou suicídio; as marcas do braço viciado em drogas; os punhos algemados dos prisioneiros em trânsito.

VISIBILIDADE

Ex-pacientes mentais e pais solteiros que esperam o filho compartilham um defeito que não é imediatamente visível; os cegos, entretanto, são facilmente notados. A visibilidade é obviamente, um fator crucial.

Já que através da nossa visão que o estigma dos outros se tornem evidente com maior freqüência, talvez o termo visibilidade não crie muita distorção. Ele deve ser diferenciado de três outras noções que são com freqüências confundidas com ele.

Em primeiro lugar, a visibilidade de um estigma deve ser diferenciada de sua "possibilidade de ser conhecido", em segundo lugar a intrusibilidade e em terceiro o "foco de percepção". Em geral, então, antes que se possa falar de grau de visibilidade, deve se especificar a capacidade decodificadora da audiência.

A IDENTIDEDE PESSOAL

Na situação da pessoa desacreditável e o seu problema de ocultamento e revelação, foi necessário, em primeiro lugar, examinar o caráter da informação social e da visibilidade.

A análise da interação social entre os estigmatizados e os normais não exigiu que os indivíduos envolvidos no contato misto se conhecessem "pessoalmente" antes de a interação se iniciar.

Há uma idéia popular de que embora contatos impessoais entre estranhos estejam particularmente sujeitos a respostas estereotípicas, na medida em que as pessoas relacionam-se mais intimamente essa aproximação categórica, sede, pouco a pouco, à simpatia compreensão e à avaliação realística de qualidade pessoal. Assim, quer estejamos em interação com pessoas intimas ou com estranhos, acabaremos por descobrir que as marcas da sociedade ficam claramente impressos nesses contatos, colocando-nos, em nosso lugar.

Por outro lado, as pessoas íntimas podem vir a desempenhar um papel especial na manipulação de situações sociais por parte do desacreditável, de tal maneira que quando a sua aceitação não for influenciada por seu estigma, as suas obrigações o serão.

OS OUTROS COMO BIÓGRAFOS

A identidade pessoal, assim como a identidade social, estabelece uma separação, para o indivíduo, no mundo individual das outras pessoas.

Essa divisão ocorre em relação aos que conhecem e os que não conhecem o indivíduo. O indivíduo que é conhecido por outros pode ter ou não conhecimento desse fato; as pessoas que o conhecem, por sua vez, podem saber ou não que o indivíduo conhece ou ignora tal fato. Por outro lado, entretanto, embora acredite que os outros não o conhecem, ele nunca tem absoluta certeza disto. Além disso, sabendo que o conhecem, ele deve, pelo menos até certo ponto, conhecer algo sobre eles; mas em caso contrário poderá ou não conhecê-los em relação a outros aspectos. Quando um indivíduo está entre pessoas para as quais ele é um estranho completo e só é significativo em termos de sua identidade social aparente imediata, uma grande possibilidade com a qual ele deve se defrontar é de que essas pessoas comecem ou não a elaborar uma identificação pessoal para ele (pelo menos a recordação de tê-lo visto em certo contexto conduzindo-se de uma determinada forma) ou de que elas abstenham-se totalmente de organizar e estocar o conhecimento sobre ele em torno de uma identificação pessoal, sendo esse último ponto uma característica da situação completamente anônima. Pode-se acrescentar que todas as vezes que um indivíduo entra numa organização ou numa comunidade, ocorre mudança marcada na estrutura do conhecimento sobre ele - sua distribuição e seu caráter - e, portanto, mudança nas contingências do controle de informação. A relação social ou o conhecimento pessoal é, necessariamente, recíproca, embora, é claro, uma ou mesmo ambas as pessoas que estão na relação possam temporariamente esquecer que são conhecidas, assim como uma delas ou mesmo ambas podem estar cônscias dessa relação mas ter esquecido, temporariamente, tudo sobre a identidade pessoal da outra.

Para uma pessoa famosa, "fugir" para um lugar onde ela possa "ser ela mesma" pode significar, talvez, encontrar uma comunidade onde não exista uma biografia sua.

Ao se considerar a fama, pode ser útil e conveniente considerar a má reputação ou infâmia que surgem quando há um círculo de pessoas que têm um mau conceito do indivíduo sem conhecê-lo pessoalmente. A função óbvia da má reputação é a de controle social, do qual devem ser mencionadas duas possibilidades distintas.

A primeira delas é o controle social formal. Há funcionários e círculos de funcionários cuja ocupação é examinar com cuidado vários tipos de público em busca da presença de indivíduos identificáveis cujos antecedentes e reputação o tornou suspeito, ou mesmo "procurado" pela justiça. Não há dúvida de que os meios de comunicação de massa desempenham um papel central, tornando possível que uma pessoa "privada" seja transformada em figura "pública".

Parece que a imagem pública de um indivíduo, ou seja, a sua imagem disponível para aqueles que não o conhecem pessoalmente, será, necessariamente, um tanto diversa da imagem que ele projeta através do trato direto com aqueles que o conhecem pessoalmente.

Um indivíduo que porta algum tipo de estigma, portanto, pode descobrir maneiras para fugir da atenção hostil do público, através da manipulação da identidade pessoal.

O ENCOBRIMENTO

Existem dois extremos possíveis na relação de um indivíduo estigmatizado com as demais pessoas com a quais ele se relaciona: onde ninguém conhece o estigma e onde todos o conhecem.

Há muitos casos em que parece que o estigma de um indivíduo sempre será aparente, mas em que isso não ocorre; se fizermos um exame, descobriremos que, ocasionalmente, ele terá que optar por ocultar informações cruciais sobre sua pessoa.

Dadas as várias possibilidades encontradas entre os extremos de completo segredo, por um lado, e informação completa, por outro, parece que os problemas daqueles que fazem esforços conjuntos e organizados para passar despercebidos são os problemas que um grande número de pessoas enfrentará mais cedo ou mais tarde. Devido às grandes gratificações trazidas pelo fato de ser normal, quase todos os que estão numa posição em que o encobrimento é necessário, tentarão fazê-lo em alguma ocasião. Mais ainda, o estigma do indivíduo pode estar relacionado a questões que não convém divulgar a estranhos.

É importante observar que, quando o estigma está relacionado a partes do corpo que os normais devem esconder em público, o encobrimento é inevitável, quer desejado ou não.

Quando uma pessoa, efetiva ou intencionalmente, consegue realizar o encobrimento, existe também uma grande possibilidade de ocorrer um "incidente embaraçoso", onde ocorre uma ameaça à identidade virtual criada por esta pessoa.

Uma das contingências básicas do encobrimento é de que ele será descoberto por todos os que podem identificá-lo pessoalmente e que incluem entre seus antecedentes biográficos fatos não manifestos e que são incompatíveis com suas pretensões atuais. É então, incidentalmente, que a identificação pessoal relaciona-se estreitamente com a identidade social.

É esta a base das variedades de chantagens. Há a "pré-chantagem", onde a vitima é forçada a continuar num determinado curso de ação devido a um aviso do chantagista de que qualquer mudança o levará a revelar fatos que tornarão a mudança insustentável. Há a chantagem "completa", ou clássica, na qual o chantagista recebe dinheiro através da ameaça de revelar fatos sobre o passado ou o presente do indivíduo que poderiam desacreditar por completo a identidade que ele sustenta no momento. Deve-se observar que toda a chantagem completa inclui o tipo que chamamos de "chantagem de autoconservação", já que o chantagista bem sucedido, além de obter o que desejava evita também a penalidade imposta à chantagem. Falando em termos sociológicos, a chantagem, em si pode não ser tão importante; é mais importante considerar os tipos de relações que uma pessoa pode ter com aqueles que poderiam se quisessem chantageá-la.

Se há algo de desacreditável sobre o passado de um indivíduo, ou sobre o seu presente, a precariedade de sua posição parece variar diretamente em função do número de pessoas que sabem do segredo. Quer as pessoas que saibam sejam poucas ou muitas, há, aqui, uma vida dupla simples, que abrange aqueles que pensam que conhecem aquele homem totalmente e aqueles que "realmente" o conhecem. Essa possibilidade deve ser contrastada com a situação do indivíduo que vive uma dupla vida dupla, movendo-se em dois círculos, cada um dos quais desconhece a existência do outro e possui a sua própria biografia do indivíduo. Um homem que tem um caso, que é, talvez, conhecido por um pequeno número de indivíduos que podem, inclusive, estar relacionados com o casal ilícito, está levando uma vida dupla simples. Entretanto, se o casal ilícito começa a fazer amigos que ignoram que ele não é realmente um casal, começa a emergir uma dupla vida dupla. O perigo no primeiro tipo de vida dupla é o da chantagem ou revelação maliciosa; o perigo no segundo tipo, talvez o maior, é o da revelação inadvertida, já que nenhuma das pessoas que conhece o casal está orientada no sentido de manter o segredo que não conhecem como tal.

Há, na literatura, algumas indicações referentes a um ciclo natural do encobrimento. O ciclo pode começar com um encobrimento inconsciente que o interessado pode não descobrir nunca; daí passa-se a um encobrimento involuntário que o encobridor percebe, com surpresa, no meio do caminho; em seguida, há o encobrimento "de brincadeira"; o encobrimento em momentos não rotineiros da vida social, como férias em viagens; a seguir, vem o encobrimento em ocasiões rotineiras da vida diária, como no trabalho e em instituições de serviço; finalmente, há o desaparecimento - o encobrimento completo em todas as áreas de vida, segredo que só é conhecido pelo encobridor.

Anteriormente foram sugeridas duas fases no processo de aprendizagem da pessoa estigmatizada: a aprendizagem do ponto de vista dos normais e a aprendizagem de que, segundo ele, ela está desqualificada. A próxima fase consiste na aprendizagem de como lidar com o tratamento que os outros dão ao tipo de pessoas que ele demonstra ser, ou seja, a aprendizagem do encobrimento. Começando com um sentimento de que tudo o que é conhecido por ele é conhecido pelo, outros, freqüentemente elabora uma apreciação realística de que não é isso o que ocorre. Por exemplo, conta-se que os fumadores de marijuana aprendem lentamente que podem atuar sob seus efeitos na presença de pessoas que os conhecem bem sem que elas percebam nada de anormal - uma aprendizagem que aparentemente ajuda a transformar um fumante ocasional em fumante regular.

O indivíduo que se encobre tem necessidades não previstas que o obrigam a dar uma informação que o desacredita tem que explicar a escolha singular de seu beneficiário. Ele sofre também de "aprofundamento de pressão", ou seja, pressão para elaborar mentiras, uma atrás da outra, para evitar uma revelação. Suas técnicas adaptativas podem elas próprias, ferir sentimentos e dar lugar a mal-entendidos por parte de outras pessoas. Seus esforços para esconder certas incapacidades o levam a. revelar outras ou a dar a impressão de fazê-lo: relaxamento, como quando uma pessoa quase cega que finge ver tropeça num banquinho ou derrama bebida na camisa.

Não saber até que ponto vai à informação que os outros têm de si constitui um problema sempre que o seu chefe ou o professor está devidamente informado de seu estigma, mas os outros não. Como foi sugerido ele pode-se tornar sujeito a vários tipos de chantagem por parte de quem conhece o seu segredo e não tem nenhum bom motivo para guardar silêncio sobre ele.

Em outro momento, a pessoa que se encobre pode ser forçada a se revelar a outras que acabaram por descobrir o seu segredo e devem colocá-la frente ao fato de haver mentido. Toda a relação obriga as pessoas nela envolvidas trocar informações sobre certa quantidade de fatos íntimos sobre si mesmas como prova de confiança e compromisso mútuo.

A pessoa que se encobre deverá estar atenta a aspectos da situação social que outras pessoas tratam como não computados ou inesperados, alguns problemas nem sempre podem ser manejados pela experiência passada, já que sempre surgem novas contingências que tornam inadequados os artifícios de ocultamento anteriores.

TÉCINICAS DECONTROLE DE INFORMAÇÃO

A identidade social de um indivíduo divide o seu mundo de pessoas e lugares, o que o faz também a sua identidade pessoal, embora de maneira diferente. Um conceito-chave aqui é o de rotina diária porque é ela que o vincula às diversas situações sociais de que ela participa. Se o indivíduo é uma pessoa desacreditada, procuramos o ciclo quotidiano de restrições que ele enfrenta quanto à aceitação social; se ele é uma pessoa desacreditável, buscamos as contingências com que se depara na manipulação da informação sobre sua pessoa.

Consideremos agora algumas das técnicas usuais utilizadas por aquele que tem um defeito secreto, a fim de manipular a informação crucial sobre si.

É óbvio que uma das estratégias é esconder ou eliminar signos que se tornaram símbolos de estigma, os viciados em drogas nos fornecem um exemplo.

Deve-se acrescentar que já que o equipamento físico empregado para mitigar os prejuízos "primários" de algumas desvantagens torna-se, compreensivelmente, um símbolo de estigma, haverá um desejo de recusar o seu uso. Um exemplo disso é o do indivíduo que está perdendo a visão e que evita usar óculos bifocais porque eles poderiam indicar velhice. Mas é claro que essa estratégia pode impedir medidas compensatórias. Por conseguinte, tornar esse equipamento corretivo invisível terá uma dupla função. As pessoas com dificuldades auditivas nos dão uma ilustração do emprego desses equipamentos corretivos invisíveis (O ocultamento de símbolos de estigma algumas vezes ocorre ao mesmo tempo em que um processo relacionado, o uso de desidentificadores, como pode ser ilustrado pelos hábitos de James Berry, o primeiro verdugo profissional da Inglaterra, que guardava seus instrumentos de trabalho dentro da roupa, para não ser denunciado por sua mala, típica da profissão que exercia).

Outra estratégia de encobrimento é apresentar os signos de seu estigma como signos de outro atributo que seja um estigma menos significativo. Os retardados mentais, por exemplo, aparentemente tentam passar por doentes mentais já que dos dois males sociais esse é o menor.

Uma estratégia amplamente empregada pelo sujeito desacreditável é manusear os riscos, dividindo o mundo em um grande grupo ao qual ele não diz nada e um pequeno grupo ao qual ele diz tudo e sobre o qual, então ele se apóia.

Deve-se acrescentar que as pessoas íntimas não só ajudam a pessoa desacreditável em sua simulação, mas também levam essa função além do que suspeita o beneficiário; elas podem, de fato, servir como um círculo protetor que lhe permite pensar que é mais amplamente aceito como uma pessoa normal do que ocorre na realidade.

Recusando ou evitando brechas de intimidade, o indivíduo pode evitar a obrigação conseqüente de divulgar informação. Ao manter relações distantes, ele assegura que não terá que passar muito tempo com as pessoas porque, como já foi dito, quanto mais tempo se passa com alguém, maior é a possibilidade da ocorrência de fatos não previstos que revelam segredos.

Deve-se considerar, agora, uma possibilidade final, que permite ao indivíduo antecipar-se a todas as outras. Ele pode voluntariamente revelar-se, transformando, portanto, radicalmente a situação de um indivíduo que tem informações a manipular na de alguém que deve manipular situações sociais difíceis, transformando a situação de uma pessoa desacreditável na de uma pessoa desacreditada.

Um dos métodos de revelação é o uso voluntário, por um indivíduo, de um símbolo de estigma, um signo extremamente visível que revela o seu defeito onde quer que ele vá.

Alguns meios menos rígidos de revelação também são usados: deslizes intencionais ou por meio de uma "revelação devida à etiqueta", uma fórmula por meio da qual o indivíduo admite o seu próprio defeito como uma questão de fato, baseando-se na suposição de que os presentes estão acima de tais preocupações, ao mesmo tempo em que os impede de cair numa armadilha mostrando que não o estão. Assim, o '"bom" judeu ou o doente mental esperam por "uma ocasião apropriada" na conversa com estranhos e dizem calmamente: "Bem, ser judeu me faz pensar que..." ou "Por ter tido uma experiência direta como doente mental, posso...".

Por fim, a aprendizagem do encobrimento constitui uma fase da socialização da pessoa estigmatizada e um ponto crítico na sua carreira moral, essa fase é tipicamente descrita como a fase final, madura e bem ajustada - um estado de graça na qual o indivíduo passa por uma revelação voluntária de seu estigma.

O ACOBERTAMENTO

Os estigmatizados empregam uma técnica adaptativa, que exige que o investigador considere duas possibilidades: a situação da pessoa desacreditada que deve manipular a tensão e a situação da pessoa desacreditável que deve manipular a informação. Os estigmatizados empregam uma técnica adaptativa, entretanto, que exige que o investigador considere essas duas possibilidades. A diferença entre a visibilidade e a obstrução está implícita neste ponto.

As pessoas que estão prontas a admitir que têm um estigma (em muitos casos porque ele é conhecido ou imediatamente visível) podem, não obstante, fazer grandes esforços para que ele não apareça muito. Os meios empregados para isso são muito semelhantes aos empregados no encobrimento - e, em alguns casos, idênticos, já que aquilo que esconde um estigma de pessoas desconhecidas também pode facilitar as coisas frente a quem o conhece. É assim que uma moça que anda melhor com sua perna de pau utiliza muletas ou uma perna mecânica nitidamente artificial quando em companhia de outras pessoas. Esse processo será chamado de acobertamento. Muitas pessoas que raramente tentam encobrir-se tentam, em geral, se acobertar.

Um tipo de acobertamento relacionado com o anterior implica um esforço para restringir a exibição dos defeitos mais centralmente identificados com o estigma. Por exemplo, uma pessoa quase cega que sabe que as outras pessoas presentes conhecem o seu defeito pode hesitar em ler alguma coisa porque para isso teria que trazer o livro a poucos centímetros de seus olhos o que, segundo ela, expressa muito flagrantemente as qualidades da cegueira.

A expressão mais interessante do acobertamento é, talvez, a associada à organização de situações sociais. Como já foi sugerido, qualquer coisa que interfira diretamente na etiqueta e na mecânica da comunicação interfere constantemente na interação, e é difícil deixar, com sinceridade, de prestar atenção a ela. Portanto, os indivíduos que têm um estigma, sobretudo os que têm um defeito físico, podem precisar aprender a estrutura da interação para conhecer as linhas ao longo das quais devem reconstituir a sua conduta se desejam minimizar a intromissão de seu estigma. A partir de seus esforços, portanto, podem-se conhecer características da interação que, de outra forma, seriam consideradas demasiadamente óbvias para merecerem atenção.

ALINHAMENTO GRUPAL E IDENTIDADE DO EU

Neste ensaio foi feita uma tentativa para estabelecer uma diferença entre a identidade social e a identidade pessoal, ambos os tipos podem ser bem compreendidos se considerados em conjunto e contrastados com o que Erikson e outros chamaram de identidade do "eu" ou identidade "experimentada", ou seja, o sentido subjetivo de sua própria situação e sua própria continuidade e caráter que um individuo vem a obter como resultado de suas várias experiências sociais.

A identidade social e pessoal são parte dos interesses e definições de outras pessoas em relação ao indivíduo cuja identidade está em questão. No caso da identidade pessoal, esses interesses e definições podem surgir antes mesmo de o indivíduo nascer e continuam depois dele haver sido enterrado, existindo então em épocas que o indivíduo não pode ter nenhuma sensação, inclusive as de indivíduo. Por outro lado, a identidade do "eu" é uma questão subjetiva e reflexiva, que deve ser experimentada pelo indivíduo cuja identidade está em jogo. Quando um criminoso usa um pseudônimo, está-se afastando totalmente de sua identidade pessoal; quando mantém as iniciais originais ou algum outro aspecto de seu nome original, está favorecendo um sentido de sua identidade do "eu".

A identidade social nos permitiu considerar e estigmatizar.

A identidade pessoal nos permitiu considerar o papel do controle de informação na manipulação do estigma.

A idéia de identidade do "eu" nos permite considerar que o individuo pode experimentar a respeito do estigma e sua manipulação.

AMBIVALÊNCIA

O individuo estigmatizado tem uma tendência a estratificar seus "pares" conforme o grau de visibilidade e imposição de seus estigmas. Ele pode tomar em relação àqueles que são mais evidentemente estigmatizados do que ele as atitudes que os normais tomam em relação a ele.

Pessoas que têm dificuldades auditivas não se vêem absolutamente como pessoas surdas, e as que têm deficiência de visão não se consideram cegas.

É em separação ou associação de seus companheiros mais estigmatizados que a oscilação da identificação do individuo é mais fortemente marcada.

Ligada a esse tipo de estratificação auto-evidente, está a questão das alianças sociais, ou seja, se a escolha que o individuo faz de seus amigos, namoradas e esposa ocorrerão dentro de seu próprio grupo ou "do outro lado da linha".

Uma garota cega não sentia interesses em se envolver com homens com a mesma limitação, mas com o tempo, conhecendo vários tipos de rapazes. Acabou por valorizar os sentimentos que um cego poderia ter por ela, passando assim a respeitas um homem cego por suas próprias qualidades.

É provável que quanto mais o indivíduo se alie aos normais, mais se considerará em termos não estigmáticos.

Quer mantenha uma aliança íntima com seus iguais ou não, o individuo estigmatizado pode mostrar uma ambivalência de identidade quanto vê de perto que eles comportam-se de um modo estereotipado, exibindo de maneira extravagante ou desprezível os atributos negativos que lhes são imputados. Isso pode afastá-lo, já que apóia as normas da sociedade mai ampla, mas a sua identificação social e psicológica com esses transgressores o mantém unido ao que repele, tornando repulsa em vergonha, depois transformando essa vergonha em algo de que se sente envergonhado. Resumindo, ele não pode nem aceitar o seu grupo nem abandoná-lo.

A ambivalência parece encontrar-se de maneira mais aguda no processo de aproximação.

Essa ambivalência de identidade pode ser caracterizada, em modo irônico, através de caricaturas, piadas e lendas que revelam certas fraquezas de um membro estereotípico da categoria.

AS APRESENTAÇÕES PROFISSIONAIS

Sugeriu-se que o individuo estigmatizado se define como não-diferente de qualquer outro ser humano, embora ao mesmo tempo ele e as pessoas próximas o definam como alguém marginalizado. Dada essa autocontradição básica do individuo estigmatizado, é compreensível que ele se esforce para descobrir uma doutrina que forneça um sentido consistente à sua situação. Na sociedade contemporânea, isso significa que o indivíduo não só tentará, por conta própria, elaborar tal código, mas que, como já foi sugerido, os profissionais o ajudarão – algumas vezes com a intenção de fazê-lo contar sua história de vida ou de contar como se saíram de uma situação difícil.

Os códigos apresentados ao individuo estigmatizado, seja explicita ou implicitamente, tendem a cobrir certas questões-padrão. Um modelo desejável de revelação e ocultamento é proposto (Ex: no caso de um ex-paciente mental algumas vezes ecomenda-se que ele esconda devidamente o seu estigma simples conhecido mas que se sinta bastante seguro sobre a natureza médica e não moral de seus defeitos passados para revelar-se à sua esposa, seus amigos mais chegados e seu empregador).

É provável que seja prevenida contra a "menestrelização" (esforço consciente para representar plenamente o papel), por meio da qual a pessoa estigmatizada deseja conquistar as graças dos normais exibindo o repertório completo de qualidades negativas imputadas a seus iguais, consolidando, assim, uma situação vital dentro de um papel ridículo: onde um aleijado não deveria ser nada além de um aleijado, agindo como incapaz. Uma anã, bem educada frente aos amigos íntimos e familiares, e uma "palhaça" na frente de pessoas que não conhece, pois é essa a imagem que se tem desde a idade média.

Há também o caso em que as pessoas não são prevenidas contra a "menestrelização" e sim encorajadas a sentir repugnância por aqueles seus companheiros que, sem chegar a realmente manter um segredo sobre seu estigma, adotam um acobertamento cuidadoso, se preocupando muito em mostrar que são muito sadios, generosos, sóbrios e capazes de realizar pesados trabalhos físicos, imagem inversa às aparências.

Deveria estar claro que esses códigos de conduta defendidos fornecem ao individuo estigmatizado não só uma plataforma e uma política e não só instruções sobre como tratar os outros, mas também receitas para uma atitude apropriada em relação a seu "eu". Não conseguir aderir ao código significa estar-se iludindo, ser uma pessoa desencaminhada; ser bem sucedido significa ser uma pessoa real e digna, duas qualidades espirituais que se combinam para produzir o que é chamado de "autenticidade".

Há duas implicações de defesa desses códigos:

1º: o conselho sobre a conduta pessoal algumas vezes estimula o indivíduo estigmatizado a tornar-se um crítico da cena social, um observador das relações humanas.

2º: os conselhos ao estigmatizado freqüentemente se referem com bastante singeleza à parte de sua vida da qual ele mais se envergonha e que considera a mais privada; suas feridas mais profundamente escondidas são tocadas e examinadas clinicamente. São embrulhadas e colocadas à sua disposição fantasias de humilhação e triunfo sobre os normais.

ALINHAMENTOS INTRAGRUPAIS

O arauto diz que o grupo "natural", real a que o estigmatizado pertence é formado pelos companheiros de sofrimento, e sofreram as mesmas privações que ele sofreu porque têm o mesmo estigma. Ele se volta para o seu grupo, é leal e autêntico; se se afasta dele é covarde e insensato.

Os profissionais podem defender uma linha militante, fazendo o estigmatizado elogiar os valores e as contribuições especiais assumidos de sua classe, podendo-se encontrar um judeu de segunda geração que intercala em seus discursos expressões e sotaque de judeu, e o homossexual que é acintosamente escandaloso em lugares públicos.

Agora, se ele procura algum tipo de separação, e não de assimilação, pode descobrir que está necessariamente apresentando seus esforços militantes na linguagem e no estilo de seus inimigos. Quanto mais ele se separa dos normais, mais parecido com eles ele se tornará nos aspectos culturais.

ALINHAMENTOS EXOGRUPAIS

Existe o grupo dos iguais (intragrupais) e um segundo grupo, os normais e a sociedade mais ampla que eles constituem. Essa linguagem não é tanto política quando a linguagem anterior e sim psiquiátrica. O indivíduo que adere à linha defendida é considerado como pessoa madura bem ajustada; quem não adere é considerado uma pessoa fraca, rígida, defensiva, com recursos internos inadequados.

Recomenda-se ao indivíduo que se veja como um ser humano completo como qualquer outro, alguém que na pior das hipóteses, é excluído daquilo que é apenas uma área da vida social.

Quem disse que os aleijados são infelizes? Eles ou vocês?

Já que o seu mal não é nada em si mesmo, ele não deveria envergonhar-se dele ou de outros que o têm; nem se comprometer ao tentar oculta-lo. Ele deveria preencher os padrões comuns tão completamente quanto possível, detendo apenas quando surge a questão da normificação, onde seus esforços podem dar a impressão de que ele está querendo negar a sua diferença.

Os normais não têm nenhuma intenção maldosa quando oferecem ajuda; quando o fazem é porque não conhecem bem a situação.

Quando descobre que os normais têm dificuldade em ignorar seu defeito, a pessoa estigmatizada deve tentar ajudá-los e à situação social fazendo esforços conscientes para reduzir a tensão, tentando, por exemplo, quebrar o gelo, referindo-se explicitamente ao seu defeito de um modo que mostre que ele está livre, que pode vencer suas dificuldades facilmente.

Brincadeira do cigarro, onde um aleijado senta-se num bar ou numa festa, e fumava-o tranquilamente, como se nada fossa impossível ou difícil a ele. E as pessoas olhavam espantadas, fazendo comentários das coisas incríveis que ele poderia fazer um par de "garras".

Uma senhora um tanto sofisticada tinha seu rosto desfigurado devido a um tratamento de beleza, achava conveniente desculpar-se comicamente em lugares cheios de pessoas pelo caso de lepra.

Iniciar-se também uma discussão sobre o seu "defeito" é uma forma de a pessoa normal se sentir mais a vontade no ambiente.

No caso dos desfiguramentos faciais é recomendado que se faça uma pausa no limiar de um encontro para que os participantes tenham tempo de elaborar suas respostas e de se acostumarem à visão.

Aceitar ajuda quando lhes é oferecida é uma forma importante para se quebrar o gelo.

Considerando o fato de que os normais em muitas situações têm para com a pessoa estigmatizada a gentileza de tratar o seu defeito como se não fossa importante, e o fato de que, provavelmente, o estigmatizado sente que é um ser humano normal como qualquer outro, pode-se esperar que este algumas vezes se permita enganar-se e acreditar-se mais aceito do que realmente é. Tentará participar socialmente, de áreas de contato que os outros não o consideram como seu lugar adequado.

Um cego que comentou que havia gostado de um chá dançante e que tencionava retornar, causou espanto em quem o ouvia, porque achavam que aquele não era um lugar para um cego, que ele não poderia fazer aquilo. O caso de um homem aleijado que subiu as escadas de um restaurante ao ar livre, e foi impedido por dois garçons que diziam que ele não poderia freqüentar aquele ambiente, pois as pessoas iam lá para se divertir e não para sentirem deprimidas com sua presença.

O fato de que o estigmatizado pode se enganar quanto à aceitação diplomática de sua pessoa, indica que esta aceitação é condicional. Ela depende de que os normais não sejam pressionados além do ponto em que podem facilmente dar aceitação ou oferecê-la com dificuldade. Espera-se que os estigmatizados ajam cavalheirescamente e não forcem as circunstâncias; eles não devem testar os limites da aceitação que lhes é mostrada, nem fazê-la de base para exigências maiores.

O "BOM AJUSTAMENTO" exige que o estigmatizado se aceite, alegre e inconscientemente, como igual aos normais enquanto, ao mesmo tempo, se retire voluntariamente daquelas situações em que os normais considerariam difícil manter uma aceitação semelhante. Para os normais, o fato de o estigmatizado seguir essa linha, é porque a injustiça e a dor de ter que carregar um estigma nunca se apresentou a eles.

Exige-se do individuo estigmatizado que ele se comporte de maneira tal que não signifique nem que sua carga é pesada, e nem que carregá-la tornou-o diferente de nós; ao mesmo tempo ele deve-se manter a uma distância tal que nos assegure que podemos confirmar, de forma indolor, essa crença sobre ele.

A POLÍTICA DE IDENTIDADE

Tanto o intragrupo quanto o exogrupo apresentam uma idade do eu para o individuo estigmatizado.

Intragrupo: fraseologia predominantemente política; Exogrupo: fraseologia psiquiátrica.

A situação especial do estigmatizado é que a sociedade lhe diz que ele é um membro do grupo mais amplo, o que significa que é um ser humano normal, mas também que ele é ate certo ponto, "diferente", e que seria absurdo negar essa diferença. Quem diz o que é ou não diferente é a sociedade; se a sociedade decide que você é diferente, mesmo você não o achando, você passa a ser diferente, independentemente de sua vontade.

Assim, mesmo que se diga ao indivíduo estigmatizado que ele é um ser humano como outro qualquer, diz-se a ele que não seria sensato tentar encobrir-se ou abandonar "seu" grupo, ou seja, diz-se-lhe que ele é igual a qualquer outra pessoa e que ele não o é.

O EU E SEU OUTRO

Existe uma contradição do eu forjado pela sociedade, que se traduz pela dualidade de linha de pensamento, define o estigmatizado como normal e aceito, porém trata com indiferença. E a segunda linha que o mesmo é membro do grupo mais amplo e que ele é até certo ponto diferente. Essa piada é a sua sorte e seu destino.

DESVIOS E NORMAS

Desvios são considerados a ponte que liga o estudo do estigmatizado ao mundo social, e a forma de reação as situações as quais se encontram. Primeiramente, e citado negros e Judeus que tanto sofreram e sofrem como já é conhecido pelo contexto histórico e social. Contudo, os que realmente apresentam com seus defeitos, muitas dificuldades de interagir em nossa sociedade, ou seja, o "diferente" que acaba elaborando uma concepção relativa ao seu respeito.

Está implícito que não é para o diferente que se deve olhar em busca da compreensão da diferença, mas sim para o comum. As normas incorporadas pela sociedade definem o sucesso ou fracasso do EU, pois mantêm o efeito direto sobre a integridade do indivíduo. Visão e alfabetização são as de maior sustentação e adequação. Sendo normas de beleza física as que quase todo mundo fracassa em algum período na vida.

Normalestigmatizado: Consiste em uma relação de como o indivíduo era e se encontra atualmente em função de uma correção da sua diferença, apresentando uma alteração em sua personalidade em direção ao aceitável.

Contudo se for de forma contrária (normal x estigmatizado) contará com uma relação de aceitação.

ESTIGMA E REALIDADE

O estigmatizado e o normal são partes um do outro, ambos possuem características vulneráveis. Ao criarmos uma situação curiosa ou de simpatia nos deparamos com uma proteção de sua privacidade empregando uma forma grotesca de resposta.

Ex: ao ser perguntado sobre sua perna a uma menina, ela responde que pediu dinheiro a uma companhia de empréstimos e eles ficaram com a minha perna.

Concluí-se então que estigmatizados e normais, fazem parte de um mesmo processo social e ambos interagem entre si, porém em papéis diferentes em algumas fases da vida, são perspectivas que são geradas em situações sociais durante os contatos mistos.

Bibliografia complementar: Augusto Cury – O mestre da sensibilidade

A Maturidade Revelada no Caos.

"Quem vive sobre o peso da culpa fere continuamente a si mesmo, torna-se seu próprio carrasco e, de outro lado quem é radical e excessivamente crítico dos outros se torna um carrasco social". (Cury, 2001)

- mestre da escola da vida sabia das limitações humanas e o quanto é difícil de gerenciar nossas reações nas situações estressantes. Tinha consciência de que facilmente erramos e de que facilmente punimos a nós mesmos e aos outros.

Contrapondo-se as sociedades modernas

Um dia, apontando um deficiente físico, algumas pessoas querendo saber o motivo dessa deficiência indagaram Jesus: "Quem pecou, ele ou seus pais?".

Aquelas pessoas esperavam que ele dissesse que a deficiência era devido a um erro que ele mesmo havia cometido ou que seus pais tivessem cometido no passado. Tais pessoas estavam escravizadas pelo binômio do certo e errado, do erro e da punição. Mas para surpresa dela ele disse uma frase de difícil interpretação:

"Nem ele nem seus pais, mas aquela deficiência era para glória de Deus".

Por meio dessas palavras colocou as dores da existência em outra perspectiva. Todos nós abominamos as dores e dificuldades da vida, procuramos bani-las a qualquer custo de nossa história. Entretanto, o mestre da escola da vida queria dizer que o sofrimento deveria ser trabalhado e superado no âmago do espírito da alma, tal superação produziria algo tão rico dentro da pessoa deficiente que a sua limitação se tornaria uma "glória para o criador". (Cury, 2001)

DESVIOS DE COMPORTAMENTO DESVIANTE

Ao abordar o tema Desvios e Comportamento Desviante, Goffman explica um conceito relevante que é o de comportamento desviante, que significa que um membro do grupo não adere às normas analisando a relação entre os estigmatizadores e os comportamentos desviantes, sugerindo em conclusão o estudo dos casos desviantes como um campo específico da disciplina, e ao mesmo tempo, faz uma grande apologia aos indivíduos estigmatizados que sofrem preconceitos por parte da sociedade na qual vivem, pois estigma é motivo de exclusão social, olhares desconfiados e fala às escondidas.

Os ditos "normais" se acham no direito de apontar o dedo e julgar essas pessoas de acordo com os seus valores de normalidade. Assim cria-se uma expectativa sobre estas pessoas esperando um tipo de comportamento já programado, porém, o autor os defende de maneira a expor os tipos de estigmas, as características centrais de suas vidas, os tipos de socialização e contatos com a sociedade, as vitimizações e as privações.

É notório assim, que um grupo social dominante tenta legitimar os seus interesses pela pressão exercida sobre os indivíduos que o compõem – as regras não assumem um papel castrador de certos atos, mas sim a categorização de desviantes, isto leva a que os indivíduos, num geral, tentem adaptar-se aos valores impostos. No entanto, este comportamento coletivo (coletivo na medida em que a maior parte dos indivíduos constituintes da sociedade, que interagem entre si abraçam as regras como uma moral pela qual se deve reger e assim também denunciam os indivíduos desviantes) constitui um desígnio fundado num conjunto de valores que definem a ação social com as conseqüências da imposição desses mesmos valores.

A interação social é definitivamente, que leva ao conflito de interesses gerando regras (dominante e dominado) que eventualmente irão ser quebradas (desvio) por indivíduos que serão categorizados de desviantes, desta forma, o indivíduo desviante tem toda a consciência da regra que está a quebrar, e quebra-a com um propósito específico, com um interesse, algo a que poderemos chamar de Desvio para a afirmação, para esta. No entanto este desvio não deixa de ser condicionado, um desvio só pode ser considerado desvio se naquele determinado tempo e espaço daquele grupo social específico, o indivíduo não corresponder a uma determinada regra em vigor pelos organismos de imposição.

Ao considerarmos, porém, os comportamentos desviantes são necessários levar sempre em linha de conta que na perspectiva jurídica, nem todo o ato desviante é delito. Assim como no âmbito psicológico nem todo o delito é um ato desviante. Assim, a transgressão da norma não define de por si só o crime nem o desvio, porque os atos nunca são percebidos do mesmo modo e porque nem todos os atos anti-normativos são ilegais ou desviantes. Dado que estamos inseridos numa realidade social é compreensível que não descuremos as noções socio-jurídicas e não nos limitemos à simples constatação do ato, mas antes, estejamos atentos para as motivações e ao contexto psicossocial em que o mesmo se desenvolveu.

Exatamente como refere Velho, Goffman e outros autores ocupados com o estudo dos comportamentos desviantes e dos processos de estigmatização que a eles se relacionam, o usuário de drogas é transformado, não exatamente por sua prática de uso de drogas, mas sim pelas sanções e restrições impostas ao comportamento condenado pelo sistema de valores, em uma pessoa acusada de atos criminosos, de incapacidade de gerenciamento da própria vida, em ameaça potencial a todos que vivem em conformidade com o modelo "apropriado" de viver.

Os comportamentos desviantes se caracterizam por produzir marcas negativas na identidade social daquele que os apresenta, de modo a influenciar decisivamente as concepções e as ações dos demais em relação a estes, e vice-versa. Assim, o estigmatizado, o desviante é o suspeito principal ao qual será atribuída a culpa por esta ou aquela situação desfavorável, por este ou aquele delito, sendo assim, os mesmos comportamentos, em contextos e/ou épocas diversas, podem ocupar posições também diversas nos sistemas de valores (ou esquemas simbólicos) que normatizam e "preenchem" com conteúdo e ditames morais as relações que se estabelecem entre as diferentes pessoas e grupos no interior de uma coletividade.

De certa forma a acusação de "desviante" se dá no sentido de encontrar "bodes expiatórios" para quaisquer problemas ou dificuldades que se encontrem em meio à sociedade. Quer dizer, quaisquer características que afastem a pessoa do modelo "normal" podem servir, em uma situação de crise em que a estrutura valorativa e identitária do grupo se encontra, por alguma razão, abalada ou posta em xeque, como motivos suficientes para acusações. O desviante, deste modo, ao ser identificado à causa dos problemas, garante a manutenção da solidez do sistema de vida dominante, impedindo que este tenha de se confrontar com suas contradições, suas falhas e, principalmente, impedindo que as pessoas que o sustentam (e por ele são sustentadas) tenham de enfrentar o risco representado por todo e qualquer processo de mudança.

Em suma, trata-se da determinação, por parte da coletividade, de seus limites morais, das fronteiras entre o "aceitável" e o desviante, o que se dará por meio da definição de papéis e de posições sociais. Quer dizer, conceitos e seus significados são determinados (disputados) de modo a constituir um sistema de relações sociais mais ou menos normatizadas de acordo com as posições e os papéis que cada pessoa e cada grupo ocupa. Tais práticas denominadas "desviantes" não carregam, contudo, em si mesmas, uma natureza desviante. São elas o produto de relações históricas e sócio-culturais que conferem sentido e atribuem valor a conteúdos (a ações) que dependem inteiramente desse processo para serem compreendidos e julgados pelas pessoas e pelos grupos. O entendimento dos comportamentos desviantes enquanto conceitos relacionais ajuda a compreender os modos pelos quais as sociedades se constituem e se organizam pelo estabelecimento de papéis e posições sociais, sistemas de sentido e valoração e, também, os modos pelos quais as pessoas, imbuídas de tais sistemas, operam suas "verdades", suas "certezas", suas "simpatias" e seus "afetos", atuando e julgando em conformidade com tais sistemas, sejam eles majoritários ou minoritários. A identificação, portanto, daqueles comportamentos que serão classificados como "desviantes", dentre os inúmeros comportamentos humanos possíveis, podem nos prover de uma vasta gama de informações sobre a sociedade e sobre as formas como ela se pensa se produz, se mantém e se transforma a partir da atribuição de sentidos e valores a práticas que, em si mesmas, nada valem ou significam.

A obra, em uma analise global é de grande proveito no mundo acadêmico, tendo que com a leitura do livro cria-se uma reflexão e consciência da realidade vivida pelo estigmatizado, quebrando preconceitos e modificando a visão sobre este, e promovendo respeito mútuo entre as pessoas.

O conteúdo interdisciplinar da obra é sublime, com grande proveito nas áreas sociais (antropologia e sociologia), na Psicologia visando entender a subjetividade tanto do ser estigmatizado, como de quem estigmatiza; e no mundo jurídico para não fazer juízo de valores a uma pessoa que tenha um estigma. Em fim a todos que queiram entender a situação dos estigmatizados, e aos que querem aprender a se relacionar com eles de um jeito onde não emitam mais estigmas.

Referências bibliográficas:

BELO, Warley. Puctum diabolicum: a nova lei das drogas. In Revista IOB de Direito Penal e Processual Penal, nº 48-Fev-Mar/2008.

CURY, Augusto. Mestre da sensibilidade. São Paulo: Academia de inteligência, 2001

FERREIRA, Tatiana Lima. O estigma de cada um, encontrado em www.webartigosos.com/articles/5006/1/o-estigma-de-cada-um/pagina1.html acesso em 22/05/08.

GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2004.

 

 

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